Livro do Mês

Curar o ressentimento

Cynthia Fleury

Curar o ressentimento

Cynthia Fleury

A psicanálise e a filosofia política compartilham uma questão essencial na vida dos indivíduos e das sociedades: o ressentimento, esse descontentamento perene que perverte suas existências. Uma rápida análise do contexto atual – das redes sociais às novas forças políticas que emergem em todo o mundo – comprova a tese de que essa pulsão ressentida que se transfigura e cristaliza em ódios se impõe como principal ameaça à democracia. Trata-se, portanto, de olharmos para o ressentimento não apenas como um caso de saúde psíquica mas, também, política.

É o que faz a psicanalista e filósofa francesa Cynthia Fleury neste livro elucidativo e libertador, ao apresentar um panorama das diversas leituras feitas sobre a amargura e sua ruminação ao longo dos tempos, buscando encontrar os antídotos contra esse envenenamento que atinge diferentes âmbitos da vida pessoal e pública.

Tanto os indivíduos quanto o Estado de Direito estão, portanto, diante do mesmo desafio: identificar e diagnosticar o ressentimento e sua força sombria, e resistir à tentação de transformá-lo no propulsor de nossas histórias individuais e coletivas. Para isso, Cynthia Fleury nos aponta caminhos de sublimação, criação e cura. Mais de 120.000 exemplares vendidos na França.

“A luta contra o ressentimento ensina a necessidade de uma tolerância diante da incerteza e da injustiça. Ao final dessa confrontação, acontece um princípio de aumento de si próprio.”

– Cynthia Fleury, em Curar o ressentimento

“O fascismo, a conspiração, o populismo, o fundamentalismo religioso, o islamismo, todas essas ideologias são diferentes, mas compartilham grandes invariantes, incluindo a impossibilidade de aceitar a realidade do outro e, portanto, o que é real de fato. Esses fenômenos se estruturam em torno da pulsão sentimental, consciente ou inconsciente, do delírio da perseguição, do fato de preferir a construção de um “fetiche” à realidade que é recusada, porque julgada insuportável, injusta – muitas vezes com razão. Esse “fetiche” pode muito bem ser um dogma religioso, uma convicção “antissistema”, seja o que for.”

– Cynthia Fleury, entrevista ao “Le Monde”

SOBRE A AUTORA

CYNTHIA FLEURY é filósofa e psicanalista, professora titular da cadeira Humanidades e Saúde no Conservatoire National des Arts et Métiers e professora titular no ghu Paris – Psiquiatria e Neurociências, grupo hospitalar universitário que é o principal centro de cuidado e pesquisas sobre doenças psiquiátricas e do sistema nervoso da França. É ainda professora associada da École des Mines de Paris. É autora de importantes obras que tratam do cruzamento entre a filosofia, a psicanálise e a política, a exemplo dos títulos Les pathologies de la démocratie, Les irremplaçables e Le soin est un humanisme, estes últimos publicados pela Gallimard. Curar o ressentimento foi lançado na França pela mesma editora em 2020, chegando à lista dos mais vendidos do ano.

 

“Eu sofro: alguém deve ser o culpado!”, assim Nietzsche definiu a posição do ressentido. É possível deslocar-se dessa atitude para outra alternativa: “qual será minha responsabilidade ante o fato que me vitimou?”. É sobre essa segunda atitude que Cynthia Fleury quer levar o leitor desse livro a refletir.”

– Maria Rita Kehl