A bastarda
Violette Leduc
“Violette Leduc não ameniza nada. A maioria dos escritores, quando confessa sentimentos ruins, retira deles os espinhos por sua própria franqueza. Ela nos obriga a senti-los, nela, em nós, em sua hostilidade candente. Ela permanece cúmplice de seus desejos, rancores, mesquinharias: assim ela assume os nossos e nos liberta da vergonha: ninguém é monstruoso se todos nós o somos.” – Simone de Beauvoir
VIOLETTE LEDUC nasceu em Arras, na França, em 1907. Foi romancista, trabalhou em editoras e também como jornalista. Seu primeiro livro, L’Asphyxie (1946) foi publicado por Albert Camus e elogiado por nomes como Jean-Paul Sartre, Jean Cocteau e Jean Genet. Em seguida vieram L’Affamée (1948) e Ravages (1955), este último com trechos que narravam cenas de sexo entre mulheres, censurados à época e retomados em 1966 no romance Thérèse et Isabelle, que se tornou um clássico da literatura lésbica. Com A bastarda, sua obra mais conhecida, foi indicada ao Prêmio Goncourt de 1964. Morreu em 1972.
Filha bastarda criada por uma mãe solteira e terrivelmente rígida, Violette Leduc é ela mesma a protagonista desta que é considerada a sua obra-prima. Aqui está uma mulher diante de si mesma, que retoma a própria história, do nascimento aos trinta anos, narrando com estilo incisivo e uma franqueza desconcertante os eventos de uma infância frágil, os embates com a aparência física nunca aceita, o desejo sexual por homens e mulheres, seus amores, rancores e suas idiossincrasias. Com A bastarda, Leduc marca a descoberta de uma linguagem literária própria que a tornou escritora e personagem das mais fascinantes e singulares da história da literatura francesa.
“Minha certidão de nascimento me fascina. Ou melhor, me revolta. Ou me aborrece. Toda vez que preciso, releio-a do início ao fim e vejo a mim mesma outra vez no longo túnel que reverberou o som da tesoura do obstetra. Eu escuto e estremeço. Os vasos comunicantes que nos faziam ser uma só pessoa quando ela me carregava no ventre foram cortados. Aqui estou eu, nascida num registro de cartório, pelas mãos de um escrivão. Sem nódoas, sem placenta: nascida na escrita, apenas um registro. Quem é essa tal de Violette Leduc? Ela é, no fim das contas, a bisavó de sua bisavó.”
Tradução Marília Garcia
Posfácio Naná DeLuca