Livro do Mês

A VIDA MATERIAL

Marguerite Duras

A vida material inaugura uma forma de literatura. Um falar escrito. O livro nasce de conversas de Marguerite Duras com seu amigo Jérôme Beaujour, com quem ela se sente à vontade para evocar os temas mais íntimos da sua vida e também os mais banais. Depois, Duras retrabalhou todo o material como texto literário, ao seu estilo, um gênero próprio, de difícil definição. “Como falar do eu e do mundo e do eu que habita esse mundo sem passar por um gênero como o diário íntimo ou a autobiografia. Com este texto, Duras deu um novo status à palavra e ao que significa falar”, destaca Laure Adler, biógrafa da escritora, na apresentação inédita que fez para esta edição brasileira.

Lançado em 1987, poucos anos após ganhar o prêmio Goncourt por O amante, portanto em um momento de grande sucesso e também de maturidade, A vida material ganhou um lugar de destaque em meio à produção literária da autora ao apresentar algumas peças chave desse quebra-cabeça fascinante que é a obra de Marguerite Duras.

 

Tradução: Tatiane França
Apresentação: Laure Adler

 

oRELHA

Um livro sem começo, meio ou fim, como diz Marguerite Duras, um livro de leitura. Não é um diário ou um texto jornalístico, nem mesmo reflete o que ela pensa dos assuntos abordados, já que ela não pensa, em geral, de nada, a não ser da injustiça social. É assim que Duras tenta definir A vida material que, como a maioria da sua obra, não cabe em nenhuma definição nem em um só gênero literário.

Publicado em 1987, este livro reúne e reorganiza uma parte das longas entrevistas que Duras concedeu a Jérôme Beaujour entre setembro de 1986 e maio de 1987. Há aqui, como o próprio título sugere, o esforço por materializar a vida no texto, ou mesmo a palavra dita na palavra escrita – o que reflete a ambição que Duras tinha de, um dia, fazer um livro dito.  

A vida material talvez seja o mais próximo desse desejo, em um livro que não chega a ser propriamente um livro, como ela diz, mas que é sobretudo: “esse vai e vem entre mim e eu mesma, entre você e eu, neste tempo que nos é comum”. Sendo assim, o que temos aqui é esse tempo em comum do nosso encontro com a escritora em sua maturidade, com aquilo que ela pensa, não de um modo definitivo, mas, sim, flutuante, como a sua escrita. 

Ao longo destas páginas, entramos em contato com alguns temas que atravessam e constituem a vida e a obra de Duras: os seus lugares (Paris, Neauphle-le-Château, Trouville, Indochina); a sua visão acerca da mulher, da mãe, da dona de casa; o seu trabalho no teatro e no cinema; a sua relação com o álcool; e outros tantos. É uma publicação incontornável para todo mundo que se interessa não só pela escritora, cineasta e dramaturga, mas pela mulher extraordinariamente autêntica que foi e segue sendo Marguerite Duras, aqui e agora, neste nosso tempo em comum: A vida material

Isabela Bosi

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Sobre A autorA

MARGUERITE DURAS nasceu em 1914, na Indochina, atual Vietnã, onde passou toda a infância. Filha de pais franceses, mudou-se para Paris em 1932, aos 18 anos, para seguir seus estudos. Durante a Segunda Guerra, junto com o seu primeiro marido, Robert Antelme, integrou- se à Resistência francesa. Em 1943, lançou seu primeiro livro, Les impudents, dando início a uma vasta produção, que inclui romances, teatro e roteiros para o cinema. Em 1984, recebeu o prêmio Goncourt por O amante, um de seus livros de maior sucesso. No ano seguinte, lançou A dor, obra adaptada para o cinema em 2018 e lançada pela Bazar do Tempo em 2023. Duras morreu em Paris, em 1996.

 

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