A chegada da escrita
Hélène Cixous
A sobrevivência da literatura
Flavia Trocoli
A chegada da escrita
“A escrita é boa: é o que não tem fim.”
Com a publicação de A chegada da escrita, o público leitor brasileiro tem acesso a mais uma obra fundamental de Hélène Cixous, autora franco-argelina com quase uma centena de livros publicados, entre ficção, ensaios e teatro, e nome incontornável da literatura mundial contemporânea.
O livro, lançado originalmente em 1976, um ano depois de sua obra mais conhecida, O riso da Medusa, reúne oito textos em que o tema da escrita das mulheres é mais uma vez o mote para pensar os caminhos da produção literária, fazendo dialogar diferentes tempos, personagens e gêneros – como o ensaio, o registro autobiográfico, cenas literárias e teatrais –, e criando um engenhoso jogo de sentidos no cruzamento da literatura e da psicanálise.
“Dizer, para atenuar, a fragilidade da vida, o tremor do pensamento que ousa querer capturá-la, girar em torno da armadilha armada pela vida a cada vez que você coloca a pergunta soprada pela morte, a questão diabólica: “Por que viver? Por que eu?”. Como se fosse a morte que quisesse compreender a vida. (…)
Escrever impede a pergunta que ataca a vida que chega. Não se pergunte: por que?”.
Coordenação de tradução, posfácio e notas
Flavia Trocoli
Grupo de tradução
Danielle Magalhães, Flavia Trocoli, Isadora Nuto, Marcelle Pacheco, Patrick Bange, Renata Estrella, Tainá Pinto
Hélène Cixous
Hélène Cixous nasceu em 1937 em Orã, na Argélia. Em 1955 mudou-se para a França para estudar literatura inglesa, área na qual obteve doutorado com tese sobre James Joyce. Na década de 1960, participoude diversas iniciativas dos movimentos de mulheres no país e dos movimentos contestatórios que tomaram conta das universidades em Paris, em maio de 1968. Ao lado de Jacques Derrida, com quem nutriuuma forte amizade ao longo de toda a vida, participou da criação da Universidade de Vincennes (Paris 8), onde fundou o hoje chamado Centro de Estudos Feministas e de Estudos de Gênero, pioneiro na Europa. A autora começou a publicar livros no fim dos anos 1960 e não parou: contam-se hoje quase cinquenta obras de ficção, mais de trinta ensaios e quatorze peças de teatro, pelas quais recebeu diversos prêmios. Ficou conhecida no Brasil por ter sido uma das grandes promotoras da obra de Clarice Lispector na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Em 1975, publicou “O riso da Medusa”, provavelmente oseu texto mais célebre, quase imediatamente traduzido em inglês e em dez outras línguas, tornando-se um clássico na história dos feminismos ocidentais e dos estudos de gênero. Mora em Paris.
A sobrevivência da literatura
Pioneira dos estudos feministas na Europa, interlocutora dileta de Jacques Derrida, autora de uma vasta obra que inclui romances, ensaios e peças de teatro, a franco-argelina Hélène Cixous ganha, com este livro, o primeiro conjunto de estudos consagrado inteiramente à sua obra publicado no Brasil.
Em A sobrevivência da literatura, Flavia Trocoli oferece um panorama dessa produção a partir de uma fina análise de seus livros mais importantes, entre eles, alguns traduzidos por ela para o português. Mais conhecida no campo dos estudos literários por suas leituras de Clarice Lispector e de James Joyce, Cixous tem criado uma obra de difícil definição, o que o próprio Derrida nomeia “objetos literários não identificados”, que se apresenta como uma rica teia de sentidos que se constroem nesse entrelaçamento de memória, identidade, referências clássicas, perspectiva de gênero e psicanálise.
Nos sete ensaios reunidos nesta edição, Flavia Trocoli propõe diferentes entradas para lermos Hélène Cixous, buscando explorar as maneiras como a literatura toma partido da vida, o ponto de partida dessa obra. É o que aprendemos com Cixous: na literatura estão mortos e vivos, irmãos e irmãs de escrita, cidades e países longínquos, línguas distintas e tempos separados. Trata-se da insistência da vida em palavras, como a própria autora nos diz:
“Tenho necessidade de falar destas mulheres que entraram em mim, elas feriram-me, fizeram-me mal, despertaram os mortos em mim, desbravaram caminhos, trouxeram-me guerras, jardins, crianças, famílias estrangeiras, lutos sem sepultura, e provei o mundo nas suas línguas. Em mim, elas viveram as suas vidas. Escreveram. E continuam, não cessam de viver, não cessam de morrer, não cessam de escrever.”
Flavia Trocoli
Professora da Faculdade de Letras da UFRJ, doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e integrante-fundadora do Centro de Pesquisas Outrarte – a psicanálise entre a ciência e a arte (IEL/Unicamp). Co-organizadora dos livros Um retorno o Freud, Giros da interpretação e Teoria literária e suas fronteirase autora de A inútil paixão de ser: figurações do narrador moderno.