Neste livro, a antropóloga Rita Segato, uma das mais respeitadas pensadoras da atualidade,analisa a lógica da violência de gênero, apresentando-a como parte integrante das engrenagens simbólicas que sustentam as relações de poder na sociedade. Em uma abordagem que combina rigor acadêmico e urgência política, Segato convida a uma leitura que ultrapassa as análises superficiais que tentam explicar atos violentos como desvios individual ou patologia. Em vez disso, a autora demonstra como a violência está intrinsecamente ligada à reprodução das hierarquias de gênero e à manutenção de uma ordem social desigual.
Um dos conceitos centrais da obra – que se apoia nos campos da antropologia, da psicanálise e dos direitos humanos – é o entendimento do estupro como “mandato”, um mecanismo estruturante do patriarcado que opera para reafirmar o controle sobre os corpos femininos. A violência se impõe, assim, como um elemento sistemático, essencial para preservar a economia simbólica de poder, que conta com a cumplicidade de instituições, normas culturais e práticas cotidianas que naturalizam e perpetuam o domínio masculino.
Já publicado em diversos países, onde se tornou referência, o livro defende que somente a partir de uma reforma da intimidade será possível desmantelar a escalada da violência, desde suas manifestações domésticas até os níveis globais.
Para isso, Rita Segato aponta a importância do papel da comunicação como motor de mudança das relações sociais pela sua eficácia simbólica, e dos direitos humanos, que ao estabelecer normas morais para toda a sociedade e dar nome às queixas e aos desejos coletivos cumprem um valioso papel pedagógico e transformador.
“O livro As estruturas elementares da violência da antropóloga e feminista Rita Segato, é
uma das leituras mais necessárias do nosso tempo, porque joga luz sobre os assuntos mais
complexos e obscuros da realidade atual, como o feminicídio e a violência contra as
mulheres.” –
Oresta López
Professora-pesquisadora e Coordenadora do Laboratório de Pesquisa Gênero, Interculturalidade e Direitos Humanos de El Colegio de San Luis, México
Tradução Danú Gontijo
Sobre A autorA
Rita Segado (1951) é antropóloga argentina, reconhecida e premiada internacionalmente pelos trabalhos em torno do feminismo e da violência contra as mulheres. É professora emérita da Universidade de Brasília (UnB) – onde lecionou entre 1985 e 2010 –, titular da Cátedra Unesco de Antropologia e Bioética e coordenadora da Cátedra Aníbal Quijano do Museu Reina Sofia, na Espanha. Trabalhou como perita antropológica e de gênero no histórico julgamento da Guatemala, em que se condenou membros do Exército pelos delitos de escravidão sexual e doméstica contra mulheres maias da etnia g’egchi, e foi convocada à Ciudad Juárez, no México, para expor sua interpretação em torno das centenas de feminicídios perpetrados no local. Foi co-autora da primeira proposta de cotas para estudantes negros e indígenas na educação superior do Brasil. Entre as suas obras estão “As estruturas elementares da violência” (2003), “A Nação e seus Outros” (2007), “A guerra contra as mulheres” (2017), “Contrapedagogias da crueldade” (2018). Em 2021 o conjunto de seus livros começou a ser publicado no Brasil pela Bazar do Tempo.