SETEMBRO 2025

Um bilhão de antropocenos negros ou nenhum

Kathryn Yusoff

 

Após três dias de tempestade, um pescador encontra, estendida na praia, uma jovem que parece ter escapado de uma grande violência. A voz dessa náufraga nos conduzirá pela história de três gerações que a precederam na tentativa de desvendar o duplo mistério de sua agressão e identidade.

Os Lafleur sempre viveram em Baía Azul, um vilarejo de pescadores no Haiti, onde a terra e as águas se confundem. Há décadas convivem em ressentimento com os Mésidor, que, ao longo dos anos, se apropriaram de todas as terras férteis da região, reduzindo os camponeses à indigência.

A partir de um encontro improvável e atração recíproca entre dois membros dessas famílias rivais, Yanick Lahens, a mais célebre escritora haitiana da atualidade, constrói uma saga ao mesmo tempo familiar e nacional. Baía Azul torna-se, assim, o palco onde se condensa a história política do Haiti: fratrias dilaceradas, devastação sem limites, arbitrariedades de poder. Em meio à violência crescente, as divindades vodus e as vozes ancestrais ecoam como únicos bastiões da beleza e da resistência à crueldade inevitável de um mundo em profunda transformação.

Tradução: Natalia Borges Polesso
 

Ganhador do Prêmio Femina 2014

SOBRE A AUTORA

Yanick Lahens nasceu em Porto Príncipe, capital do Haiti, em 1953. Após um período de estudos em Paris, onde cursou o ensino médio e graduou-se em Literatura Comparada na Universidade de Sorbonne, ela retorna ao Haiti para lecionar na universidade pública. Em 1998 criou o projeto Rota da Escravidão, que, por meio de atividades artísticas e científicas, tratou dos legados locais de escravização e, no mesmo, ano ajudou a fundar a Associação dos Escritores Haitianos, instituição engajada, entre outras coisas, na luta contra o analfabetismo. É hoje a mais célebre escritora haitiana, com oito romances publicados, além de coletâneas de contos e ensaios, obras premiadas e traduzidas para diversos idiomas. Em 2019 assumiu a cadeira de Estudos Francófonos no Collège de France, em Paris. Em 2020 recebeu o Prix Carbet pelo conjunto de sua obra. É professora da Universidade de Porto Príncipe, onde mora.

O QUE VEIO NA CAIXA

A caixa do mês traz o livro ” Banho de lua”, tradução de Natalia Borges Polesso, ganhador do Prêmio Femina 2014, uma vela aromática de capim-limão, planta resistente que cresce em solos quentes e férteis — como o solo haitiano — que carrega, em seu perfume, a força das coisas simples que sobrevivem. Um marcador ilustrado com a imagem de capa da artista haitiana Tessa Mars e uma carta com informações e conteúdo extra.