Um bilhão de antropocenos negros ou nenhum
Kathryn Yusoff
Após três dias de tempestade, um pescador encontra, estendida na praia, uma jovem que parece ter escapado de uma grande violência. A voz dessa náufraga nos conduzirá pela história de três gerações que a precederam na tentativa de desvendar o duplo mistério de sua agressão e identidade.
Os Lafleur sempre viveram em Baía Azul, um vilarejo de pescadores no Haiti, onde a terra e as águas se confundem. Há décadas convivem em ressentimento com os Mésidor, que, ao longo dos anos, se apropriaram de todas as terras férteis da região, reduzindo os camponeses à indigência.
A partir de um encontro improvável e atração recíproca entre dois membros dessas famílias rivais, Yanick Lahens, a mais célebre escritora haitiana da atualidade, constrói uma saga ao mesmo tempo familiar e nacional. Baía Azul torna-se, assim, o palco onde se condensa a história política do Haiti: fratrias dilaceradas, devastação sem limites, arbitrariedades de poder. Em meio à violência crescente, as divindades vodus e as vozes ancestrais ecoam como únicos bastiões da beleza e da resistência à crueldade inevitável de um mundo em profunda transformação.
Ganhador do Prêmio Femina 2014
SOBRE A AUTORA
Yanick Lahens nasceu em Porto Príncipe, capital do Haiti, em 1953. Após um período de estudos em Paris, onde cursou o ensino médio e graduou-se em Literatura Comparada na Universidade de Sorbonne, ela retorna ao Haiti para lecionar na universidade pública. Em 1998 criou o projeto Rota da Escravidão, que, por meio de atividades artísticas e científicas, tratou dos legados locais de escravização e, no mesmo, ano ajudou a fundar a Associação dos Escritores Haitianos, instituição engajada, entre outras coisas, na luta contra o analfabetismo. É hoje a mais célebre escritora haitiana, com oito romances publicados, além de coletâneas de contos e ensaios, obras premiadas e traduzidas para diversos idiomas. Em 2019 assumiu a cadeira de Estudos Francófonos no Collège de France, em Paris. Em 2020 recebeu o Prix Carbet pelo conjunto de sua obra. É professora da Universidade de Porto Príncipe, onde mora.
O QUE VEIO NA CAIXA
A caixa do mês traz o livro ” Banho de lua”, tradução de Natalia Borges Polesso, ganhador do Prêmio Femina 2014, uma vela aromática de capim-limão, planta resistente que cresce em solos quentes e férteis — como o solo haitiano — que carrega, em seu perfume, a força das coisas simples que sobrevivem. Um marcador ilustrado com a imagem de capa da artista haitiana Tessa Mars e uma carta com informações e conteúdo extra.
