MAIO 2025

A beleza do marido

Marguerite Duras

 

Em um Rio de Janeiro dividido por territórios invisíveis, Cecília Olliveira, um dos principais nomes do jornalismo investigativo do país, desvenda a trajetória de Carlos Eduardo Benevides Gomes, o Cabo Bené, homem que passou de policial militar a líder miliciano até ser executado junto com outros onze homens numa operação policial em Itaguaí, não por acaso, às vésperas das eleições de 2020. Com acesso exclusivo a documentos sigilosos, depoimentos inéditos e uma persistente investigação jornalística, a autora revela a complexa teia que transforma agentes do Estado em criminosos, expondo as alianças entre polícia, política e crime organizado que sustentam as milícias.

Do assassinato de Marielle Franco a eleições compradas, da expulsão de traficantes à cobrança de taxas de “proteção”, o livro mergulha nas estruturas de poder que moldam a segurança pública fluminense há décadas e revela como esse fenômeno das milícias tem avançado com força pelo Brasil.

Mais que uma investigação sobre criminosos, este é um retrato perturbador de um Estado corrompido por dentro, onde a linha entre proteção e extorsão se dilui na falsa promessa de ordem. Como veremos, a milícia hoje não está à margem do poder, mas entranhada nele.

Projeto gráfico: Estúdio Insólito

ORELHA

POR MAIS QUE SE CONVIVA COM A REALIDADE da insegurança pública do Rio de Janeiro – cujosdramas, aliás, não lhe são exclusivos –, não há como ler este livro sem espanto e emoção. Conforme aprendemos com os clássicos gregos, o espanto é a fonte da sabedoria; pois a obra de Cecília Olliveira, combinando delicadeza e intensidade, lucidez, muita informação, empatia e espírito crítico, nos devolve a perplexidade e a indignação que o ceticismo nos roubara. Sem o susto e a mobilização dos afetos produzidos pela percepção crítica, terminamos por nos acomodar às “coisas como elas são” e a naturalizar o inaceitável. Este livro é a comovente recusa de uma jornalista excepcional à ignorância e à apatia, ao autoengano e ao imobilismo. É um não veemente aos clichês, que nos vendem a ideia de que o povo flfl uminense vive – vivemos – num cartão-postal e que o jeito é deixar a vida nos levar, aos trancos e barrancos, cada qual cuidando de si, porque não há nada mesmo a fazer. A obra de Cecília é um manifesto inconformista: por um lado, desconstitui a crença pueril de que já se sabe tudo – esse autoengano que conduz à ilusão de que o diagnóstico está pronto, de que só falta agir. Por outro lado, abala a indiferença, essa patologia cívica provocada pela mistura de ceticismo, cansaço, sucessivas frustrações e individualismo agudo. O encontro raro entre competência e coragem, neste livro, permitiu demonstrar como Estado e crime se aliaram e se sobrepuseram, de tal modo e a tal ponto que segurança deixou de ser questão para especialistas e se tornou o desafio mais premente e dilacerante para a democracia brasileira – tão precária, contraditória, limitada, entretanto indispensável.

LUIZ EDUARDO SOARES

SOBRE A AUTORA

CECILIA OLLIVERIA é jornalista investigativa dedicada a cobertura do tráfico de drogas e de armas e violência. É cofundadora do Intercept Brasil, diretora fundadora do Instituto Fogo Cruzado e diretora da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – ABRAJI. É membro da The Global Initiative Against Transnational Organized Crime e do Latin America Regional Advisory Council – Institute for Integrated Transitions (IFIT). “Como nasce um miliciano” é o seu primeiro livro.

O QUE VEIO NA CAIXA

Com o livro Como nasce um miliciano de Cecília Olliveira + seu marcador de páginas + o cartaz “O futuro é filho de Gaza”, inspirado no livro que lançamos em junho Gaza está em toda parte de Alexandra Lucas Coelho.