Em busca dos jardins de nossas mães
Prosa mulherista
Alice Walker
Primeira mulher afro-americana a receber o prestigioso prêmio Pulitzer de ficção, Alice Walker também foi pioneira ao tratar de diversos temas da cultura negra dos Estados Unidos. Ainda nos anos 1970, abordou pela primeira vez questões raciais como o colorismo, e passou a defender um ponto de vista mulherista, termo reivindicado pelo feminismo negro para expressar as particularidades de suas lutas.
Filha de trabalhadores rurais, Alice Walker experimentou a violência da segregação racial e as dificuldades de ser uma mulher negra no Sul do país, contexto que incorporou em seu romance A cor púrpura e que está presente em vários ensaios deste livro. .
Entre perspectivas pessoais e políticas, a autora nos convida a acompanhá-la na busca da própria identidade e das referências afro-americanas, muitas delas apagadas pela história. Seguindo-a nesse caminho, nos deparamos com Zora Neale Hurston, Martin Luther King, Philis Weathley, e chegamos ao jardim de uma casa modesta na Geórgia. Lá, em meio a uma rotina sem descanso, sua mãe encontrou a porção diária de vida cultivando dedicadamente suas flores – e Alice Walker, o sentido desse legado materno.
“Essa capacidade de persistir, ainda que das maneiras mais simples, é um trabalho que as mulheres negras realizam há muito tempo.”
Tradução Stephanie Borges
Posfácio Rosane Borges
Sobre a autora
Alice Walker é escritora, poeta e ativista, nascida no estado da Geórgia, Estados Unidos, em 1944. Devido ao contexto da segregação racial, estudou na única escola que aceitava crianças negras em sua cidade. Pelo excelente desempenho acadêmico, recebeu bolsa integral para a universidade, primeiro em Atlanta – onde integrou o Movimento pelos Direitos Civis –, e depois em Nova York, onde se formou. Trabalhou com professora de literatura no estado do Mississipi em períodos dos anos 1960 e 1970. Seu primeiro livro, Once, de poesia, foi lançado em 1968. Publicou em seguida diversas edições de contos e romances, entre elas A cor púrpura, em 1983, livro vencedor dos prêmios Pulitzer e National Book Award e adaptado para o cinema com imenso sucesso. Em busca dos jardins de nossas mães é seu primeiro livro de não-ficção publicado no Brasil.
“Pensei também nas petúnias que minha mãe me deu quando minha filha nasceu e na história (quase uma parábola) que ela me contou sobre as flores. Há 37 anos, minha mãe e meu pai estavam voltando para casa em sua carroça – na época, minha mãe estava grávida, esperando um de meus irmãos mais velhos – e passaram por uma casa abandonada na qual só restava um arbusto de petúnia cor de lavanda, florescendo no quintal (provavelmente para fazer companhia a si mesma), e minha mãe disse “Pare! Deixe-me pegar aquele arbusto de petúnia”. E meu pai, resmungando, parou, e ela pegou o arbusto, e eles foram para casa, e ela o colocou num toco grande do quintal. A petúnia nunca murchou, só cresceu e floresceu. Toda vez que minha família se mudava (digamos, uma dúzia de vezes), ela levava sua petúnia. E, 37 anos depois, ela me trouxe um ramo daquele primeiro arbusto. Nunca tinha morrido. A cada inverno, mantinha-se dormente, quase morto, mas voltava a cada primavera, mais forte do que nunca. O que ressalta a importância dessa história para mim é o seguinte: petúnias modernas não vivem para sempre. Elas morrem a cada inverno, e, na primavera seguinte, você precisa comprar flores novas. De certa forma, o livro inteiro é uma celebração das pessoas que não se esforçam para preencher nenhum molde racial ou ideológico. Estão todas gritando: Pare! Quero pegar aquela petúnia!”
Em busca dos jardins de nossas mães – Prosa mulherista, p. 241.
Patricia Hill Collins é socióloga e professora emérita do departamento de sociologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. É autora de Pensamento feminista negro, obra referência nos estudos de raça e gênero escrita em 1990. Em seu texto “What’s in a name? Womanism, Black Feminism, and Beyond”, publicado na revista The Black Scholar em 1996, analisa as semelhanças e diferenças entre o feminismo negro e o mulherismo, termo estabelecido por Alice Walker na primeira edição americana de Em busca dos jardins de nossas mães: prosa mulherista, em 1983. De acordo com Alice, “a mulherista está para a feminista como o roxo está para lavanda”.