Livro do Mês

Olha-me e Narra-me

Adriana Cavarero

Quem poderá dizer quem eu sou? E quem poderá contar a minha história?

Enquanto a filosofia, desde Platão, busca o universal abstrato, a narração — atividade encarnada na figura feminina de Sherazade, a tecelã dos contos — volta-se para os detalhes de uma história única, irrepetível. A delicada arte da narração confere a cada ser o seu desenho unitário em um espaço sempre relacional, exposto ao olhar e à história do outro. A filósofa Adriana Cavarero discute nesta obra, citada e celebrada por Elena Ferrante em seu livro de ensaios, como nossa identidade é tanto descoberta quanto moldada pelas histórias que ouvimos e contamos. É por meio da narração que conseguimos dar sentido às experiências e organizar as memórias que formam quem somos.

Em uma fina análise de obras literárias, poesia, mitos antigos e evocando as práticas feministas italianas de grupos de autoconsciência, Cavarero elabora uma “filosofia da narração” que, confiada às mulheres e ao amor a vida, se apresenta como antídoto para o pensamento masculino, dedicado à definição abstrata e à morte.

Tradução Milena Vargas 

Uma fascinante investigação em que Cavarero destaca o papel político e relacional das narrativas, especialmente o protagonismo das mulheres como contadoras de histórias que questionam ideias abstratas e trazem à tona uma visão mais humana e comprometida com a vida.

“A história de vida, alcançando a própria narrativa, coloca em palavras uma identidade ao mesmo tempo e no mesmo contexto em que as mulheres presentes geram um espaço político que finalmente as expõe.”

Sobre A autorA

Adriana Cavarero (1947) é uma renomada filósofa italiana, professora titular na Universidade de Verona, onde preside atualmente o comitê científico do Centro Hannah Arendt de Estudos Políticos. Ao longo de sua carreira, também trabalhou como professora visitante na Universidade de Nova York e na Universidade da Califórnia, em Berkeley. 

Entre suas obras mais conhecidas estão Nonostante Platone (Apesar de Platão), de 1990; Orrorismo. Ovvero della violenza sull’inerme (Horrorismo: nomeando a violência contemporânea), de 2011, Inclinazioni: critica della rettitudine (Inclinações: Crítica da retidão), de 2013, todas já publicadas em diversos países.